segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Klabin: a boa mãe de Telêmaco

Henry Milléo/ Gazeta do Povo / Vista urbana de Telêmaco com a Klabin ao fundo: 95% do território da cidade é coberto de pinus para o extrativismo
Telêmaco Borba - Telêmaco Borba é uma cidade cercada de Klabin por todos os lados, um rasgo urbano em meio a uma vastidão de pinus na região centro oriental do Paraná, distante 250 quilômetros de Curitiba. Principal planta da Klabin, a fábrica de Telêmaco puxa a dianteira da maior produtora, exportadora e recicladora de papéis do país, um conglomerado com receita líquida de R$ 3,7 bilhões e 17 indústrias em oito estados e na Argentina. Foi por obra e graça dessa fábrica que a Fazenda Monte Alegre saiu da condição de povoado para virar cidade. Não uma cidade qualquer. Telêmaco é a capital do papel.
A Klabin é, por assim dizer, a mãe de Telêmaco. A grande provedora. Pelas contas do prefeito Eros Danilo Araújo, a empresa responde de forma direta e indireta por 50% das receitas municipais, que em 2012 devem chegar fácil a R$ 100 milhões. A interação é constante, já que a maioria dos funcionários da indústria mora na cidade. Os maiores empregadores do município são, pela ordem, a Klabin, a prefeitura e o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Ainda que não faltem recursos e incentivos, a cidade não consegue traduzi-los em bons indicadores sociais.
Dos 70 mil habitantes, 12 mil dependem do Bolsa Família, levando-se em conta que os 2.926 benefícios atendem quatro pessoas por família, em média. Além desses, mais 20 mil estão na fila de espera ou se viram com algum outro programa estatal. “Isso nos assusta”, diz o prefeito. A frase, mesmo em tom casual, sintetiza a instabilidade de um município onde o entra e sai é constante. Só entre 2007 e 2009, pelo menos 10 mil pessoas chegaram atraídas pelo anúncio da ampliação das instalações da Klabin, um investimento de R$ 2,2 bilhões e 4,5 mil empregos durante as obras.
A maioria não conseguiu colocação, pela falta de vagas ou de qualificação profissional, mas muitos ficaram e acabaram pendurados nas abas do poder público, como muitos outros antes deles. Na esteira dessa população flutuante, em média 30 mil pessoas costumam orbitar em torno da Secretaria de Assistência Social. Atualmente são 32 mil, ou 45% da população local. O prefeito garante que Telêmaco tem gordura para queimar. E não só graças à Klabin. A usina de Mauá, em fase de conclusão, vai irrigar a região com dinheiro dos royalties (leia mais nesta página).
O município tem uma área de 1.225 km², dos quais apenas 64 km² destinados à ocupação urbana. Ou seja, 95% do território é coberto de pinus para o extrativismo. E a cidade ainda perdeu em 1997 o único cinturão agrícola, com a emancipação política de Imbaú. Mas Telêmaco não tem do que se queixar. Afinal, seu desenvolvimento se deve à compra da Fazenda Monte Alegre pelas famílias Klabin e Lafer, em 1933, para expandir os negócios de produção de papel iniciados em 1899 no interior de São Paulo.
Nove entre dez moradores de Telêmaco sonham com um emprego na fabricante de papéis. A necessidade de formar mão de obra especializada levou à criação da Faculdade de Telêmaco Borba (Fateb), além de um câmpus da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). “Essas instituições deram uma nova perspectiva para os jovens”, avalia o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Fateb, Getúlio Nunes Gonçalves. “Hoje eles sonham ser engenheiros, médicos, advogados”, diz. Um futuro que não existiria não fosse a Klabin, arrisca dizer o professor.
O projeto Retratos Paraná, iniciado em 26 de setembro, traz reportagens sobre aspectos sociais e econômicos de diversas cidades do estado. Confira todo o conteúdo e um banco de dados on-line emwww.gazetadopovo.com.br/retratosparana
Gazeta do Povo

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