Quando
a presidenta da República afirmou que "construir estádios é simples"
talvez nem imaginasse quanto essa frase simbolizava um modo peculiar brasileiro
de administrar.
Com
a pretensão inversa ao resultado de fato, a presidenta queria tranquilizar os
representantes da Federação Internacional de Futebol de que o país daria conta
do recado e entregaria todos os estádios até o início do evento em junho.
De
alguma forma os estádios serão mesmo entregues, ainda que sem condições efetivas
de funcionamento, mas apenas maquiados. Talvez fosse mais prudente e ético
assumir as falhas, substituir os estádios que não estarão prontos por outros já
estruturados em outras praças esportivas não escolhidas anteriormente.
Ao
fazer essa afirmação, Dilma Rousseff seguiu um estilo diuturno das autoridades
brasileiras de contrapor fatos com palavras e promessas. Quando se aponta falha
ou falta de alguma obra, a primeira autoridade que se manifesta, não só nega
provas documentais, imagens, como afirma que tudo não passa de complô da mídia
catastrofista, além de emendar com milhões de verbas liberadas imediatamente.
Recentemente,
a governadora do Maranhão responsabilizou o crescimento econômico do seu estado
pelas mortes no presídio de Pedrinhas. Assim, agem todos os governadores ao
negarem a violência, quando os números mostram o contrário. Tudo isso tem
associação com a palavra da presidenta porque ambas são apenas jogadas no ventilador,
pouco importando se os dados e fatos comprovem exatamente o contrário.
Vamos
ao caso concreto da presidenta: o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do
Mundo em 2007. Tinha sete anos para construir e reformar os estádios. Faltam
pouco mais de 4 meses para o início da Copa, e o estádio da Arena da Baixada
está com 40, 50 ou 60% de suas obras não concluídas. Com toda simplicidade
apregoada, seis anos e meio não foram suficientes para concluir o que quatro
meses serão tempo de sobra.
Esse
tipo de afirmação sem compromisso com a realidade atesta um modo peculiar da
autoridade brasileira. E a população ainda que não aceite, não contesta a ponto
de forçar um pedido de desculpa, uma retratação.
Existem
casos isolados de reação, como no Sete de Setembro de 1992, quando o então presidente
Fernando Collor de Mello pediu o apoio do povo para se vestir de verde e
amarelo, mas o Brasil inteiro vestiu-se de preto.
Nesse
modo de agir está o simbolismo da fala presidencial, que representa um estilo das
autoridades desde a presidenta da República até o mais humilde prefeito dos
grotões brasileiros. Jogam-se soluções e milhões no ventilador, com a certeza
de que o vento as leva embora e o povo esquece.
Pedro
Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito
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