quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Morte de Campos muda o cenário da eleição presidencial






14/08/2014 | 00:13 | ANDRÉ GONÇALVES E KATNA BARAN


Se Marina Silva assumir a candidatura, reeleição de Dilma e presença de Aécio no 2.º turno ficam mais difíceis. Sem ela, disputa tende a ficar polarizada

A tragédia aérea que provocou a morte do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, coloca as eleições de 2014 em um cenário de incerteza. A coligação de Campos tem dez dias para anunciar o substituto ou desistir do pleito. Vice na chapa, a ex-senadora Marina Silva (PSB) é o nome natural para a vaga, mas até ontem não havia se manifestado sobre o futuro.

Marina foi a terceira colocada no primeiro turno da disputa presidencial de 2010, com 19,33% dos votos válidos. Ela manteve-se como o nome mais competitivo da oposição até abril deste ano, quando formalizou a pré-candidatura a vice. No dia 5 daquele mês, o Datafolha* apontou que ela tinha 27% das intenções de voto, contra 39% de Dilma Rousseff (PT) e 16% de Aécio Neves (PSDB).

Em nota, a coligação Uni­­dos pelo Brasil disse acreditar que a perda de Campos “encerrou sua vida, mas não seus ideais”. Líder do PPS na Câmara dos Deputados, o paranaense Rubens Bueno disse que a chapa não deve desistir da eleição. E que Marina seria o nome mais forte para encabeçá-la. O PPS faz parte da coligação.

“A entrada da Marina muda completamente o quadro. Ela tira votos da Dilma, mas ao mesmo tempo liga o sinal vermelho para o Aécio, que pode ficar de fora do 2.º turno”, avalia o diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, que vinha colaborando com o candidato do PSB. O cientista político Christopher Garman, diretor do Eurasia Group, concorda. Para ele, com Marina, a reeleição de Dilma e um possível 2.º turno com Aécio são menos prováveis.

O futuro de Marina depende da relação da ex-senadora com colegas do PSB. Ela é novata na legenda. Só se filiou em outubro do ano passado, quando não conseguiu viabilizar a criação de seu próprio partido, a Rede. Também se opôs a várias alianças estaduais, como a parceria com o PSDB de Beto Richa no Paraná.

O dilema de Marina estaria entre assumir a candidatura como uma “homenagem” à parceria com Campos ou sair da disputa como uma forma de não parecer que está tirando proveito da situação. Se assumir o posto de Campos, vira uma candidata forte e aumentam as chances de 2.º turno. Caso contrário, a tendência é que a eleição fique polarizada entre Dilma e Aécio, podendo ser decidida já no primeiro turno.

Solidariedade

Em declaração à imprensa, ontem à tarde, Marina não fez qualquer menção ao futuro. Abalada, preocupou-se em demonstrar solidariedade à familia de Campos. “Fo­­­­ram dez meses de intensa convivência em que começamos a fiar juntos a esperança de um mundo melhor, mais justo”, disse. “A imagem que quero guardar é a de nossa despedida de ontem, cheia de sonhos.” A tendência é de que a decisão de Marina só seja anunciada após o enterro, previsto para amanhã, em Recife.

A ex-senadora estava anteontem com Campos no Rio de Janeiro e, em princípio, viajaria junto com ele no jato Cessna 560 XL que caiu no litoral paulista. De última hora, Marina preferiu viajar para São Paulo junto com assessores em um voo comercial.

*O Datafolha fez 2.637 entrevistas em 162 municípios, entre 2 e 3 de abril. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, com um nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada na Justiça eleitoral com o código BR 00064/2014.


Fonte: www.gazetadopovo.com.br

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